Biografia da Banda


Membros:
Tim Rice-Oxley
Tom Chaplin
Richard Hughes
Jesse Quin




Se pensarmos nos problemas que podem surgir, este seria dos melhores. Tim Rice-Oxley faz click numa lista de reprodução na sua pasta do iTunes. Nela, esta em quarentena a lista final das músicas do novo álbum dos Keane. Os membros da banda têm defendido as suas opções preferidas ao longo dos últimos meses e alguns amigos contribuiram com as suas opiniões. No entanto, assim que a banda se reúne à volta do computador de Tim, outro click leva-os para as doze músicas que conformam o quarto álbum dos Keane, “Strangeland”. "Todos satisfeitos?" Diz o principal compositor da banda. É parecido àquele momento dos votos de casamento, em que se convida aos presentes a mencionar qualquer impedimento legal para a iminente declaração entre os noivos. “Bem, não foi tão complicado” disse o líder dos Keane, Tom Chaplin, embora o seu tom de aparente incredulidade sugerisse que nada na vida é assim tão simples.

De facto, não é. Já passaram quatro anos desde o lançamento do último álbum dos Keane, Perfect Symmetry; dois desde Night Train, o mini LP que seguiu aos seus três antecessores de longa duração e alcançou o topo das listas britânicas, garantindo à banda um lugar na história da Pop. Se o frenético grupo de fãs leais dos Keane se perguntava como seria o próximo trabalho da banda, não eram os únicos. Nos oito anos que passaram após o lançamento de Hopes & Fears, o álbum de 2004 que foi nove vezes disco de Platina e recebeu um Brit Award, cada registo dos Keane marcou uma clara evolução em relação ao anterior: O ambiente de ansiedade emocional que transmitia Under The Iron Sea; o poptimismo cintilante de Perfect Symmetry, que incluia Spiralling, o sucesso cheio de som electrónico que foi escolhido pela revista Q em 2008 como Música do Ano. Então, e agora?
É uma pergunta que Tim se tinha feito de vez em quando. 

“No álbum Perfect Symmetry senti que me tinha permitido entusiasmar-me tanto pelas texturas como pela composição em si, e a partir dessa ideia, dediquei muito tempo a pensar sobre o que é que torna uma música realmente mágica"

Sem dúvida alguma, inclusive enquanto lê este texto, é provável que haja uma sala cheia de cientistas em Silicon Valley a estudar algoritmos musicais numa tentativa de responder a esta questão. Em 2009, enquanto os Keane percorriam o mundo de turnê com Perfect Symmetry, o subconsciente de Tim começou a trabalhar em relação a este assunto. No caminho de carro desde o aeroporto de São Paulo até o hotel, as bases de uma nova música começaram a tomar forma na sua cabeça. O título, Sovereign Light Café, vem do restaurante à beira-mar em Bexhill aonde ele e o baterista dos Keane, Richard Hughes, chegavam de bicicleta desde Battle quando eram adolescentes. Nele, “passavamos horas a apanhar sol debaixo de um céu cheio de nuvens tentando chamar a atenção de qualquer menina que tivesse mais ou menos a nossa idade”, "Infelizmente, Bexhill não costuma atrair muitas com esta descrição”.

Quando a “demo estilo Springsteen” começou a tocar no autocarro da turné, a banda voltou a ouvir aquilo que tinha. Os sentimentos da música – algo como tentar encontrar o sentido do presente olhando para o passado – foram como uma luz que iluminou o que viria a seguir. Foi muito emotivo”, lembra Tim. “Vindo do coração, sem filtros, por dizê-lo de outra forma”.

A partir desse momento, a seguinte decisão que os Keane tomaram foi a de que o álbum estaria pronto no seu momento, sem limitações de tempo. Quando acabavam uma música, esta dava-lhes uma série de pistas que os levava à próxima: o discurso redentor de Silenced By The Night; o enaltecimento do espírito que provoca Neon River. E assim sucessivamente. “Penso que tinha umas cem músicas em diferentes formatos antes de entrar no estúdio”, diz Tim. Reduzir a lista para “cerca de cinquenta” era um processo que incluia o resto da banda. Não posso dizer que tenha inveja dele", diz Richard, "recebias um email sem texto, apenas um título no assunto e uma música em MP3 em anexo. Só nos apercebiamos de que era uma música em que estava a trabalhar há três dias se a nossa resposta fosse fraca ou indiferente!”

Em todos os casos, as músicas que conseguiam passar o teste pareciam vir de um lugar de profunda reflexão: uma tentativa de dar sentido a esse caminho através do qual os Keane se tonaram adultos. Watch How You Go é um clássico dos Keane – uma música agridoce sobre a amizade, transmitida com um peso emotivo que apenas se obtem com os anos. Tom Chaplin lembra que “quando a ouvi pela primeira vez perguntei-me se seria sobre mim, mas essa é uma das qualidades das melhores músicas do Tim, sentimo-las como uma referência pessoal a nossa situação e quando as mostramos ao público apercebemo-nos de que todos sentem o mesmo”. Tom lembra-se de ter sentido uma familiaridade parecida com os sentimentos da música In Your Own Time. "Imediatamente", ri-se, “a nível pessoal, senti vontade de a cantar”.

Neste momento e em grande parte do Strangeland sentimo-nos na companhia de adultos que tentam dar sentido à situação actual de cada um. A vida melhora, as relações humanas que estabelecemos tornam-se mais profundas e, ao longo do caminho, realizamos algumas das nossas ambições. Não podemos esquecer que há uma década os Keane não tinham um contrato e moravam e ensaiavam num espaço partilhado em Tottenham. Numa dada altura, Tim tentou ganhar algum dinheiro extra formando parte de uma experiência médica com drogas. Porque é que a euforia sem reservas parece muito mais atingível no idealismo da juventude, quando há tão pouco a perder? Desse paradoxo surgiram Sovereign Light Café, The Starting Line e não só. “Esquece os fantasmas que te tornam velho antes de tempo”, incita Tom Chaplin nesta música, com uma voz que quase arranca as emoções mais profundas. Embora de um modo diferente, On The Road nasce a partir de sentimentos parecidos e como uma lembrança de que ceder ao medo pelo desconhecido é negar aquelas coisas que fazem que vida valha a pena. Basta ouvir como a primeira estrofe dispara para um refrão de euforia estonteante para aperceber-nos de que os Keane criaram um dos hinos dos festivais de verão.

Talvez não seja coincidência. Quando a banda não toca em festivais, assistem frequentemente como público. You Are Young veio à ideia de Tim em Glastonbury, quando perdeu-se e ao mesmo tempo encontrou-se no meio de uma multidão de amantes da música, apercebendo-se de que "nunca se é demasiado velho para sentir estes momentos de epifania”. Se já viu os Keane em directo, saberá que eles também são peritos em oferecer alguns desses momentos tão especiais. É quase como se Tim – que admite ser um homem com tendência para "analisar demasiado as coisas” – criasse as músicas como se fossem espaços fechados onde, durante aproximadamente quatro minutos, pode esquecer-se de si próprio. Talvez por isso a atracção dos Keane tenha transcendido há muito tempo as fronteiras tribais. As respostas emocionais tendem, por natureza, a não observar os limites dos géneros.

Se este é o efeito que causam no principal compositor dos Keane, podemos apostar que será o mesmo no resto do mundo, e tão longe como os Estados Unidos e a América do Sul - onde a banda enche grandes recintos e é recebida com acampamentos às portas dos hotéis dias antes à sua chegada. Na Rússia, a banda viu o seu comboio ser assediado por centenas de fãs, após terem sido divulgados detalhes sobre a sua viagem a São Petersburgo. Quando Tom Chaplin fala sobre “essa coisa fantástica e não indentificável que diferencia uma música boa de uma genial”, os nossos pensamentos vão imediatamente para clássicos inquestionáveis dos Keane como Somewhere Only We Know, Everybody's Changing, Is It Any Wonder?, The Night Sky e Spiralling. A essa lista podemos acrescentar com segurança mais alguns poucos. As madrugadas de electrónica febril de Black Rain (composta por Tim após ter visto o angustiante filme bélico de animação de Ari Folman, “A Valsa com Bashir”) e a intimidade espectral de Sea Fog, cujo nome foi escolhido pelo estúdio de Tim, fazem-nos lembrar que os Keane nunca tiveram medo de lançar a rede na busca de inspiração lírica e sonora.

É por isso que há músicas que são, logo no momento, inegável e genuinamente Keane. Músicas como Disconnected e Day Will Come. Alguns dias podem incendiar o teu mundo/Alguns dias afundam-se como pedras”, canta Tom nesta última, antes de se lançar no contagioso refrão que pode ressuscitar um morto. Um momento real que, uma vez se ouve não se esquece. Com um gancho tão forte que poderia levantar o Titanic, Disconnected é mais um exemplo da habilidade dos Keane para transformar uma receita complicada de emoções em músicas de uma simplicidade enganosa.

Esta última música traz recordações especiais ao novo membro da banda, Jesse Quin (baixo). Tenho tocado ao vivo com eles há alguns anos” lembra Jesse (que também colaborou com Tim no projecto de 2010, Mt Desolation). “Combinamos num pub perto da casa de Tim em Bermondsey. Eu tinha a sensação de que me iam pedir para me unir à banda, pelo que não tive que pensar muito a resposta. Estava há pouco tempo na banda quando apareceu Disconnected. Pusemos a música nas atuações ao vivo e, junto com Sovereign Light Café, parecia informar sobre o que viria depois”.

Ao comentar com Jesse que deve ter sido um pouco assustador juntar-se a um trio de amigos de toda a vida, ele encolhe os ombros de uma forma que sugere que nem tem pensado nisso. “Não me apercebo", diz, "De vez em quando acontece alguma coisa que é própria da sua genuina e velha amizade. Se noto que alguém se comporta de maneira estranha, respondem-me: 'Ah, isso? É porque caiu dum cavalo quando tinha oito anos' Mas não me sinto como parte de um clube do que nunca serei sócio”.

Para Richard, a diferença após a chegada de Jesse tem sido enorme. Adoro que esteja na banda. Agora somos uma secção rítmica real.” Tom torna este sentimento de bem-vinda extensível ao productor do álbum Dan Grech. “A sensação de rejuvenescimento destas músicas fez-nos pensar em contar com alguém jovem e cheio de ideias, e é exactamente nesse sentido que Dan tem contribuido. Acaba de finalizar o seu trabalho com The Vaccines e Lana Del Rey e está claramente em alta”. Richard continua: “A questão é que com este álbum juntaram-se muitos factores. Para além de contar com Dan e Jesse, Tim acabava de finalizar o seu estúdio. E isso implica uma grande diferença. De repente, já não olhamos continuamente para o relógio. É um grande estímulo para a criatividade”.

E com essa libertação de pressão, Strangeland viu ressurgir o conceito de diversão no mundo partilhado dos Keane de uma forma que não acontecia desde as sessões de Hopes & Fears. Richard olha para atrás percorrendo o ambiente que rodeia o cenário de Sussex, onde se encontra o estúdio que durante os últimos meses tem sido a sua casa. “Em muitos sentidos é como se se completasse um ciclo. No álbum há muitas músicas inspiradas em experiências de quando cresciamos como crianças em Battle. Não podemos voltar atrás, é claro. Somos casados, temos filhos. De vez em quando, depois de um bom dia, vamos ao pub e falamos um pouco de tudo ou de nada, até que chega a hora de ir para casa. Seja o que for que nos faz ser Keane – essa cola invisível – ainda continua ai. E é possível ouvi-lo em Strangeland”.

Os Keane editaram o seu quarto álbum, Strangeland, no dia 7 de Maio de 2012.

aqui a biografia anterior (2010).

Tradução: Diana Mesquita Pereira
Revisão: Keane Portugal